E o olhar estaria ansioso esperando
E a cabeça ao sabor da mágoa balançando
E o coração fugindo e o coração voltando
E os minutos passando e os minutos passando…

– vinícius de moraes, O olhar para trás. Rio de Janeiro, 1935

Aforismos.

A lua anda devagar, mas atravessa o mundo.

– provérbio de não sei que região da África…

Aforismos.

Façamo-nos um grande favor: sejamos incoerentes em nossas sexualidades.

O meu ceticismo sobre a Europa comunitária não se modificou, porém não consigo deixar de pensar que a Europa de hoje já deverá ter pouquíssimo que ver com aquela outra Europa que imaginei conhecer e de que me tenho permitido falar. O mais certo é existirem nela dificuldades infinitamente mais graves do que aquelas que um simples escritor (este) seria capaz de nomear. Como é que se pode, por exemplo, acreditar na boa-fé de Delors, que agora, na cimeira de Copenhague, se saiu com um apelo à solidariedade dos povos europeus para a resolução do problema do desemprego? Foi a falta de solidariedade que fez na Europa 18 milhões de desempregados, ou são eles tão-somente o efeito mais visível da crise de um sistema para o qual as pessoas não passam de produtores a todo o momento dispensáveis e de consumidores obrigados a consumir mais do que necessitam? A Europa, estimulada a viver na irresponsabilidade, é um comboio disparado, sem freios, onde uns passageiros se divertem e os restantes sonham com isso. Ao longo da linha vão-se sucedendo os sinais de alarme, mas nenhum dos condutores pergunta aos outros e a si mesmo: ‘Aonde vamos?’

– josé saramago, Cadernos de Lanzarote, Diário I, pág. 67

São Jorge (kiko dinucci)

Guerreio é no lombo do meu cavalo
Bala vem mas eu não caio, armadura é a proteção
Avanço sob a noite iluminado, luto sem pestanejar
Derrubo sem me esforçar, a guarnição

A guimba e a fumaça do meu cigarro
Cega o olho do soldado que pensou em me ferir
Com um sorriso derrubo uma tropa inteira
Mesmo que na dianteira sombra venha me seguir

O gole da cachaça esguicho no ar
Chorando na labuta ouço a corrente se quebrar
E o golpe do destino esse eu sinto mas não caio
Guerreio é no lombo do meu cavalo

Zen.

Arrasta-se pelo rio o tolo, agarrado a um velho tronco. Ouve-se adiante o estrondoso trovão da cachoeira. O tronco é a vida. O tolo, eu.